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Sérgio Fantini



Quem é?

Sérgio Francisco Cruz Fantini, nascido em Belo Horizonte (MG), a 13 de maio de 1961, é filho de Edgard Fantini e Janar de Azeredo Cruz Fantini.


O que faz?

A partir de 1976, publicou zines e livros de poemas; realizou shows, exposições, recitais e performances.

Tem textos nas seguintes antologias: Revista Literária da UFMG, Novos Contistas Mineiros (Mercado Aberto), Contos Jovens (Brasiliense), Belo Horizonte, a Cidade Escrita (ALMG/UFMG), Temporada de Poesia/Salto de Tigre (PBH), Mini-antologia da minipoesia brasileira (PorOra), Geração 90, Manuscritos de Computador (Boitempo), Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século (Ateliê), Contos Cruéis (Geração), Quartas histórias - contos baseados em narrativas de Guimarães Rosa (Garamond), Cenas da favela – as melhores histórias da periferia brasileira (Geração/Ediouro), 35 maneiras de chegar a lugar nenhum (Bertrand Brasil), Capitu mandou flores - contos para Machado de Assis nos cem anos de sua morte (Geração), Pitanga (Lisboa, Portugal), 90-00 - cuentos brasileños contemporáneos (Ediciones Copé, Peru), Como se não houvesse amanhã - 20 contos baseados em músicas da Legião Urbana (Record), Rock Book – contos da era da guitarra (Prumo), Coletivo 21 (Autêntica) e Aos pés das letras (Annablume).

Leitor compulsivo, oferece oficinas relacionadas ao incentivo à leitura e à produção de literatura e faz revisão literária de originais.

Publicou os livros Diz Xis, Cada Um Cada Um, Materiaes (Dubolso), Coleta Seletiva (Ciência do Acidente), A ponto de explodir (2ª edição: Jovens Escribas, 2013), Camping Pop (Yiyi Jambo, Paraguai), Silas (Jovens Escribas), A Baleia Conceição (Infantil, Formato) e Novella (Jovens Escribas).

Em 2008, foi lançado o curta-metragem de animação "Terra", do diretor Sávio Leite, baseado em poema de Sérgio Fantini, que também assina o roteiro. O curta foi selecionado para dezenas de festivais no Brasil e em outros países, como França, Finlândia, Chile, Cuba, Estados Unidos, Equador, Peru e Portugal, além de vencer alguns deles, como os de São Paulo, Rio Grande do Sul, Cineport em João Pessoa e Sabará.

Fonte: Informações cedidas pelo próprio citado.


ENTREVISTA COM SÉRGIO FANTINI

por Ana Elisa Ribeiro 1

Havia meses que eu queria entrevistar Sérgio Fantini. Não queria uma entrevista por e-mail porque achava que ele é o tipo do cara que dá pano para manga.

Conheci Fantini no meio deste ano, pouco antes do lançamento do meu livro. Antes, só o havia visto na quarta capa do seu livro Materiaes, editado pela Dubolso, em Minas. Lembro-me de tê-lo achado sério, e a impressão se confirmou quando o vi pessoalmente.

Moreno, baixinho, cabelos minuciosamente arranjados, sorriso bonito, embora raro. Fantini é escritor desde a década de 1970, publicou quase uma dezena de livros e é conhecido, hoje, mais como contista e novelista do que como poeta.

Depois de três meses tentando marcar a entrevista, conseguimos nos encontrar no dia 11 de novembro de 2002, numa lanchonete chamada Rococó, no centro de Belo Horizonte. Depois de encontrá-lo tomando uma solitária cerveja, passamos pelo Palácio das Artes e procuramos um lugar mais silencioso.

Na esquina de Conselheiro Lafaiete e Santo Agostinho, ao som de Creedence, demos corda à seguinte conversa.

Ana Elisa: Sérgio Fantini, você é o autor de um livro de poesia que saiu pela Ciência do Acidente este ano, o Coleta seletiva. Qual é a desse livro?

Fantini: Esse nome é auto-explicativo. Ele é uma seleção dos oito livros de poemas que publiquei anteriormente, todos por edições próprias. Como todos eles tiveram edição reduzida numericamente (apesar da qualidade visual muito boa, como o Carapuá, que teve capa e ilustrações de Humberto Guimarães e o Bakunin, de 83, que teve capa do Luiz Maia), restrita aos amigos, aos familiares e às pessoas a quem enviei o livro pelo correio, surgiu a idéia desta edição.
 
Ana Elisa: E a prosa?

Fantini: A prosa era uma ambição que eu tinha desde antes de publicar poesia.  Eu lia o Fernando Sabino, Rubem Braga, Stanislaw Ponte Preta... Tentava escrever e, graças a Deus, para isso eu tinha autocrítica: rasgava tudo que escrevia, ao contrário da poesia, que eu escrevia e até publicava, e felizmente publicava só um décimo do que escrevia. Então deu para salvar um pouco a reputação, na época. E, num dia de 1985, escrevi três contos curtos, que mandei para a Revista Literária da UFMG, onde eu estudava, e eles foram classificados para integrar a revista. Quer dizer, os primeiros textos de prosa que escrevi foram referendados por uma comissão julgadora.
(...)

Fantini: Mas está sendo generosa o bastante para tentar me explicar alguma coisa. Isso é bacana. Isso faz parte da poesia e faz parte, principalmente, em minha opinião, do mundo literário. Você escreve, publica, acaba que você está entrando num determinado mundo. Essa generosidade que você teve agora é uma das poucas coisas que me faz continuar acreditando que é possível publicar meus livros e fazer o que eu quiser com relação à Literatura, que é uma atividade coletiva. Para criar é extremamente solitária, mas depois que sai de você, é coletiva. A generosidade é uma das coisas que está nesse caminho e, para mim, é uma das mais importantes. A minha relação com o meio literário, não dá para fugir do chavão, se dá única e exclusivamente na generosidade. Eu coloquei isso no Coleta Seletiva. Fiz uma declaração pública: tudo que eu tenho de bom na Literatura são os amigos que fiz através dela. Não tem mais nada. Ganhei algum dinheiro em determinada época, meu nome circula e isso significa ser famoso? Circula, tem algum interesse nisso, mas isso também é uma bobagem. Então, o que importa é que tenho amigos, que são pessoas legais.
 
Ana Elisa: Você falando, eu me lembrei do Luiz Ruffato, que, há algum tempo, me mandou um e-mail dizendo que tinha para ele que "escreve para fazer amigos". Eu fiquei muito impressionada, porque ele tem hoje uma envergadura, que é engraçado o cara falar que escreve para fazer amigos. Parece que a coisa acontece justamente para pessoas que são mais "do bem". Estou falando daqueles caras ultravaidosos que ficam o tempo todo preocupados em tomar lugar, e não acontece nada com eles. E esses caras que têm essa generosidade de que você está falando aí, esse amor pela coisa, e as coisas vão acontecendo, os livros deles vão sendo gostados.
(...)

Ana Elisa: Quando você começou, na década de 70, você estava lendo quem?

Fantini: Nos anos 70, eu era um leitor estudantil. Drummond, tudo de livros escolares, as coisas óbvias. Mas na casa do meu pai tinha um cômodo que se chamava biblioteca. Tinha a sala de jantar, o quarto dos fundos, onde a gente ficava de castigo, tinha o quintal, o alpendre, a garagem, o jardim e tinha a biblioteca. Era o nome de um cômodo da casa. E tinha duas paredes repletas de livros, o piano da minha irmã e a escrivaninha do meu pai, que era professor de desenho. Eu li muito daquilo, principalmente até os quinze anos. Claro que li sem critério. Têm informações que não ficaram em mim, não fizeram sentido para mim até aquela época. Mas eu li muito.
(...)

Fantini: Mas as influências que eu tive na juventude, na adolescência, foram influências tradicionais: Tesouro da Juventude, Mundo Infantil, fábulas de La Fontaine, tudo o que tinha em casa mais as coisas de escola. Minha leitura variou um pouco, mais tarde, quando comecei a publicar. Comecei a conhecer escritores que começaram a me indicar livros que não seriam indicados na escola. Uma coisa que tenho muito clara para mim: do pouco que sei de literatura, 90% eu aprendi lendo, lendo literatura, consumindo, mas principalmente tendo tido a chance de conversar com escritores.
(...)

Ana Elisa: Então, você se assumiu como escritor bem novo. Você não esperou a publicação...

Fantini: Eu fui assumido, digamos assim. Diziam: "Você é poeta", e eu era. Eu era poeta para mim, ali nos meus caderninhos, nos meus poeminhas de amor, para pai, para mãe, sei lá o que eu escrevia nessa época, minhas angústias e até hoje, de certa forma, é a mesma coisa. Eu acho que essa menina, que virou uma grande amiga, fez isso: pegou meus poemas e mostrou para os outros. Ela foi minha primeira editora. Ela que colocou essa coisa e eu assumi: é isso aí, eu escrevo mesmo. E fui embora. Comecei a fazer folheto, comecei a publicar. Aí vem toda a história que já está na biografia oficial, que você pode consultar na Delta Larousse.
(...)

Ana Elisa: Você conhece algum editor de literatura contemporânea ou de poesia que não seja poeta, que não seja escritor? Você acha que um puro comerciante faria uma doideira dessas?

Fantini: Eu adoraria conhecer esse cara. Um cara que fosse exclusivamente comerciante, contratasse os melhores artistas para fazer o seu produto, que seria o meu produto também, o nosso produto texto, com o melhor projeto gráfico, o melhor papel, melhor adequadamente, não o melhor mais caro, e que vendesse da melhor maneira. O que eu quero é que o editor venda livros. O editor quer que eu escreva. Se eu não escrever, ele não tem o que editar. Eu quero que ele publique para vender o livro. Não é fazer um livro bonito e colocar na estante. Eu quero que ele venda o livro. Eu quero livro que seja multiplicador do texto que faço. Eu quero que o editor faça isso para mim. Eu já fiz isso sozinho várias vezes. Durante muitos anos, multipliquei meus poemas no mimeógrafo a álcool, a tinta, e passei meus poemas para as pessoas. Eu cheguei a ter algum reconhecimento. Hoje, não sei se tenho, mas algum que tenha é porque me esforcei. Para vender mal, vendo sozinho.
(...)

Ana Elisa: Sua preocupação é o livro chegar ao leitor...

Fantini: Se não fosse isso, eu ia escrever diário. Ia guardar a sete chaves com uma florzinha cor-de-rosa. Eu quero que as pessoas leiam o que escrevo, lógico.
(...)

Ana Elisa: Você acha que, se você estivesse em São Paulo, as coisas iriam acontecer mais, mais amplamente, mais rápido, ou você acha que não tem nada a ver? Para escrever, você pode estar em qualquer canto do mundo?

Fantini: Para escrever, eu posso estar em qualquer canto do mundo, tranqüilamente. Se estivesse em São Paulo, talvez tivesse menos amigos lá do que eu tenho hoje. No contato cotidiano, a gente ia brigar, porque eu sou chato e eles também são muito chatos. Porque nós somos especiais, nós somos diferentes. Eu acho que a gente tem uma doença. Eu discordo de você. Eu acho que cada um de nós que dedica as 24 horas do dia a pensar num verso, numa frase, numa história para escrever é uma pessoa doente. Você tem que ganhar dinheiro, tem que atender às coisas da sua família, do País, tem que votar, tem que militar, tem que ter emprego. No entanto, você fica pensando naquele verso que você vai fazer. Então, você é uma pessoa doente. Eu sou uma pessoa doente nesse sentido. Socialmente, sou uma pessoa doente. Por isso meus amigos quase todos são ligados à mesma coisa. São doentes também. Somos do mesmo sanatório. Mas morar em qualquer lugar não faria a menor diferença. O que faz diferença para mim é que para escrever preciso ter tranqüilidade. Não é estar sozinho. É não estar devendo, não ter problema de família, problema de saúde. Eu sou muito ligado à minha família, gosto muito dela. Sou muito ligado aos meus amigos. Quando tem algum amigo com problema, me sinto incomodado. Tenho emprego estável, o que me dá um salário. Eu tenho uma vida bem modesta. Então, não tenho problema de grana. Não faço nada especial e não tenho dívida complicada. Sou uma pessoa muito simples, cotidiana. Se estou tranqüilo, trabalho e escrevo, sem maiores complicações, se estivesse em São Paulo, em Nova York...
(...)

Ana Elisa: Fantini, foi um prazer inenarrável e biunívoco entrevistar você. Você me tirou do armário como jornalista. A gente tem outros papos aí para frente.

Fantini: O copidesque é meu. Você me embebedou com o champanhe. Eu quero ver isso aí.

Ana Elisa: Você quer fazer alguma declaração para fechar o papo?

Fantini: Onde isso vai sair?

Ana Elisa: Na internet.

Fantini: Não, vamos tomar a saideira.

Fonte: Disponível em: http://www.estantedelivros.blogger.com.br/2003_01_01_archive.html . Acesso em: 7 dez. 2006.

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1 Professora da disciplina Oficina de Textos do curso de Letras da UFMG, à época.




   

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